A DORA
Mulher negra, nordestina, forte, guerreira, mãe de seis filhos.
Migrou para o Rio e na mala, apenas a coragem.
Precisava (sobre)viver.
Assim como tantas outras Doras.
Aqui, travou sua luta diária. Labuta de sol a sol.
Mulher carismática, querida e admirada por todos.
Montou uma banca nas feiras de rua.
Vendia temperos.
Lembro do cheiro da moída, da torra,
do defumar varando as madrugadas das minhas férias com ela.
Dormia embaixo da barraca enquanto ela, incansável,
transbordava simpatia com suas freguesas.
Era uma aventura prazerosa, cheia de cores e odores,
esses meus dias de infância ao lado da minha avó, Dora. Doralice.
Ela, o alicerce da família.
Aquela barraca, meu cantinho favorito no mundo.
Meu lugar de amor, alegria e segurança.
Pena que ficou pouco por aqui.
Hoje, retrato sua essência em forma de amor e arte.
Sua e de tantas outras Doras de Cores e Dores.

Descrição da imagem: mulher negra de volumosos olhos fechados, lábios
grossos, pele em nuances de diversas cores, como amarelo, cinza, rosa. Usa um
turbante vermelho na cabeça. O fundo da tela é azul escuro.