MARGARIDAS VERMELHAS
SOBRE
Ocí Ferreira
Rio de Janeiro, Brasil, 2021
MARGARIDAS VERMELHAS
Acrílica sobre tela, 120X80
Na tela princesas passeiam
Amores imaculados, permeiam
Flores jogadas do céu
Espalham-se na beleza do véu
Porta retrato com nós quatro
No imaginário idolatro
Santo no armário hei de trancar
Glorioso dia há de chegar
Ó paí, um moço bonito de sapato brilhante
Viu em mim um diamante
Ajoelha em intenções declaradas
Danço sobre nuvens rosadas
Cantando lustro a panela
Olho grudado na janela
Vermelho nos lábios passados
Água de cheiro, cabelos aprumados
A face de anjo agora deforma
De vermelho minha vista borra
Latente é o berro que a mim assombra
Escorre na pele a cor da vergonha
Lustra seu sapato na minha veste
“Esta tela hei de quebrar, sua peste!
Casa minha não é lar do sonhar.
Quenga aqui não há”
Acabou a poesia
Rimas junto a mim se perderam
Olho pela fresta que a vida aponta
A direção a mim não pertence
Alma tolhida num corpo marcado
A força da vida a pulso me vence
Floresce em meu ventre gerando abuso
“Não exista em mim, eu não existo!”
Em minhas pernas, o inocente escorre com a água
Em minhas mãos seus traços analiso
“Perdoa, eu não sabia que te queria
Me salve, menininha!”
De força meu vazio se preenche
De coragem a esperança me toma
Das correntes do pavor me destranco
O ar da carreira rompe em meu rosto sorridente
Ao longe, um estampido abafado meu ouvido chama
De um calor meu peito se invade
Argila meu corpo o barro quente
Dançam sob mim nuvens marejadas

Descrição da imagem: mulher negra usa batom vermelho, pinceladas de branco e vermelho simulam um vestido decotado. Seu rosto aparece apenas do nariz para baixo. Seus olhos são cobertos por espatulada única de cor vermelho intenso com leves nuances em preto. Ao fundo a tela é azul intenso e possui um círculo alaranjado intenso ao centro.